quarta-feira, 31 de maio de 2017

Girassol. - Ira


A canção Girassol foi escrita pelo guitarrista Edgard Scandurra para a sua ex-mulher Beatriz. Ela foi gravada pela primeira vez no disco 7, lançado pelo grupo Ira em 1996. Durante a seleção de repertório para a gravação do Acústico MTV, o produtor Rick Bonadio pediu para que a banda apresentasse uma canção de amor, em tom mais confessional. Scandurra começou a cantar Girassol. A reação de Rick foi espontânea: “Essa é que vai arrebentar! Vai ser hit no Brasil". E pediu pro Nasi cantar: “Vai, Nasi, canta aí essa música!”.


Acontece que a música registra o relacionamento interrompido de Edgard com Beatriz que na época teve um caso com o Nasi. A história do triângulo amoroso não era bem resolvida entre os parceiros de banda e gerou resistência de Scandurra que não queria ouvi-la interpretada por Nasi. Sem saber da história Rick Bonadio acabou por convencer Scandurra apontando que aquele seria o single do disco acústico e que portanto deveria ser cantada pelo vocalista. 

No livro A Ira de Nasi de Mauro Betting e Alexandre Petillo, publicado depois da gravação do Acústico MTV, o produtor reflete: 

"Pensando bem, acho que tudo isso ajudou em todo o processo. Os quatro viram que eu estava sendo profissional, que não tomava partido de nenhum lado, e que não queria confusão. Eu queria apenas o bem da banda. Eles sacaram isso e se entenderam. Mas agora caiu a ficha... Ficou mais clara a discussão inicial, a insistência do Edgard para querer cantar... É natural", declara Rick.

Capitaneado pela massiva execução de O girassol e Eu quero sempre mais, o disco Acústico MTV Ira! vendeu mais de 200 mil cópias em dez meses.


terça-feira, 30 de maio de 2017

Astronauta de Mármore - Nenhum de Nós


Em 2004, o cantor e compositor Seu Jorge participou como ator do filme A Vida Marinha Com Steve Zissou do diretor Wes Anderson. Depois de ser flagrado pelo diretor cantando no set de filmagens, foi convidado a integrar também a trilha sonora do filme interpretando cinco canções de David Bowie. 


A negociação se estendeu e Seu Jorge ganhou o direito de gravar 13 versões em português para canções de Bowie, que se tornariam o repertório do seu terceiro disco The Life Aquatic Steve Zissou (2005). Uma das canções é "Starman", que foi gravada com a letra em português escrita pelos integrantes da banda Nenhum de Nós, Thedy Corrêa, Carlos Stein e Sady Homrich. 


Nem na trilha do filme, quanto no terceiro disco de Seu Jorge, os autores de "Astronauta de Mármore" tiveram seus créditos devidamente reconhecidos para que pudessem arrecadar os direitos autorais da versão. Na real os autores só ficariam sabendo da omissão através da imprensa em quando procurados para participarem de uma matéria investigativa que tratava de apropriações musicais. 

Pouco depois da ligação do repórter do jornal Extra, Thedy Correa, vocalista do Nenhum de Nós, recebeu uma ligação telefônica do próprio Seu Jorge. No livro "Nenhum de Nós: a obra inteira de uma vida" de Marcelo Fera reproduz o diálogo em que Thedy foi taxativo:

"- Eu quero apenas que corrija, só preciso que saia no disco os créditos para o Nenhum de Nós, aí tu recolhe os direitos autorais das tuas músicas e eu recolho os da nossa. 
Seu Jorge agradeceu e prometeu consertar o erro. "

Na segunda prensagem a omissão do crédito se repetiu. Lá aparece que "todas as versões foram escritas por Seu Jorge" com apenas um acréscimo: "Thanks to Nenhum de Nós". O caso foi parar na justiça e os autores da versão de "Astronauta de Mármore" misteriosamente perderam a causa Ainda tiveram de arcar com as despesas dos advogados de Seu Jorge. 

Lançada em 1989, a versão de Starman feita pela banda Nenhum de Nós esteve entre as canções mais executadas daquele ano.



segunda-feira, 29 de maio de 2017

Noite de Desejos - Odair José


Em 1974, o LP Lembranças do cantor e compositor Odair José estava pronto para lançamento quando teve aquela que seria a sua faixa principal, “A Primeira Noite de um Homem”, censurada. A canção vetada se inspirava no filme de Dustin Hoffman lançado no Brasil com o mesmo nome e descrevia as tensões de um homem em sua primeira relação sexual.

Ao confirmar o veto, a Divisão de Censura em Brasília confirmou o veto alegando que a composição “trata de um assunto totalmente incoviniente” e “como a música é de índole popularesca e seria consumida por públivo jovem, torna-se ainda mais contraindicada sua liberação”. O próprio Odair chegou a ir à Brasília conversar com os censores para tentar liberar a música de trabalho do disco. No livro "Eu Não Sou Cachorro Não" de Paulo César Araújo, Odair José relata o encontro com o general Golbery do Couto e Silva:



“Encontro com general você sabe como é que é, né? Eu fui acompanhado de um advogado e me lembro que no avião, durante a viagem, ele ia me orientando: ‘Não responda nada, não questione nada, aceite tudo o que o general disser.’ Chegando lá eu falei com o Golbery eu expliquei que a intenção da música não era corromper a juventude, que eu até poderia mudar alguma coisa na letra e tal, mas ele me disse: ‘Não! Está proibida a ideia’.” 

Pra provar ao general das dificuldades de se proibir uma ideia,  Odair aproveitou a melodia da canção, fez pequenas alterações na letra, assinou a “Noite de Desejos” e enviou para apreciação da censura. Sem alterar a mensagem que gostaria de expressar, Odair teve a canção Noite de Desejos liberada para ocupar a vaga deixada por “A Primeira Noite de um Homem” e assim enganou o general.



Compare abaixo os versos das canções:

A Primeira Noite de um Homem (Odair José): 
“Á primeira noite de um homem / é uma noite tão confusa / é uma noite tão estranha… / …meu desejo era tanto / que eu nem sabia por onde começar / o meu corpo esquentava / eu tremia / não conseguia nem falar…”


Noite de Desejos (Odair José): 
“E foi então que aconteceu…/… eu tinha medo e não queria / mas meu desejo era maior…/… foi naquela noite a primeira vez / e eu nunca esqueci…/… o meu corpo esquentava / eu tremia. “

domingo, 28 de maio de 2017

João Ninguém - Rita Lee


Transgressora desde a mais tenra infância, a cantora e compositora Rita Lee coleciona gestos e letras de libertação. Uma destas está na canção João Ninguém, gravada no disco Lança Perfume em 1980. 


A letra fala de um João Ninguém que é "dono da Aldeia", com ele "quem bobeou, dançou". No seu livro "Rita Lee: Uma Autobiografia" a cantora revela que o seu muso-inspirador da canção foi o então general-presidente João Figueredo. 

"Um cara pé de chinelo que saiu do estábulo e virou rei, mas o cheiro do estábulo nunca saiu dele, aliás, uma carapuça que cabe perfeitamente em nossos políticos de hoje", afirma Rita. 


sábado, 27 de maio de 2017

Me Deixa - O Rappa


O nosso single de hoje é a canção Me Deixa, escrita pelo então baterista d' O Rappa Marcelo Yuka. Fina ironia que um grande sucesso da carreira da banda tenha sido escrito em um momento de distanciamento entre os integrantes. Era a fase de pré-produção do disco Lado B Lado A, o grupo tentava compor repertório sem que as músicas fossem escritas apenas por Yuka, mas os ensaios não rendiam muito: o vocalista Falcão não comparecia e os outros integrantes tentavam criar bases para novas músicas que ainda não existiam. 


Foi quando Yuka recebeu o convite de Samantha, sua namorada na época, para dar uma volta na praia.Ele aceitou o convite e quando foi se aproximando a hora do ensaio ficou dividido.

"Na época, estava ouvindo muito uma música do UB40 do disco Rat in the Kitchen. Ela falava do cara que queria ficar com a mulher amada, mas que precisava trabalhar.Eu não tinha uma relação de homem e mulher com a Samantha, mas fiquei com a música na cabeça. Fomos tomar um último suco. Nessa hora, associei o fato de eu não ir para o ensaio com tudo o que você pode fazer quando é 
desobediente. Peguei esse gancho: às vezes, é preciso desobedecer – nem que seja a si mesmo." , conta Yuka no seu livro Não se preocupe Comigo


Foi na falta de um ensaio, exercendo o direito de fazer greve de si mesmo,  que Yuka compôs uma canção de liberdade que seria cantada em todo o Brasil. 

sexta-feira, 26 de maio de 2017

Angra dos Reis - Legião Urbana


Uma das faixas de sucesso do terceiro disco da Legião Urbana, Angra dos Reis registra uma história curiosa na trajetória do grupo: por pouco ela não viria a ser gravada. Ela surgiu como tema musical composto em parceria pelo vocalista Renato Russo e o baterista Marcelo Bonfá. Foi levada ao estúdio sem letra, mas por insistência do produtor Mayrton Baia acabou ganhando versos memoráveis.

Por gostar do tema Mayrton chegou a chantagear Renato dizendo que o disco só seria finalizado quando a letra estivesse pronta. Em seu livro Memórias de um Legionário, o guitarrista Dado Villa-Lobos conta:

"O Renato não gostou e abandonou o estúdio, com raiva. No dia seguinte, já com o trabalho de mixagem rolando, o Renato jogou um papel amassado na mesa onde o Mayrton trabalhava e disse, mal-humorado: 'Toma a tua letra!'"

Tempos depois Renato Russo agradeceu ao produtor pela provocação. Reza a lenda que o Mayrton guarda até hoje o papel amassado em que os versos foram entregues.