sexta-feira, 23 de junho de 2017

Eu Vou Deixar de Ser um Cara Vagabundo - Agnaldo Mattos


“Eu vou deixar de ser um cara vagabundo” é uma canção escrita em 1998 por Agnaldo Mattos como resposta às declarações do então presidente Fernando Henrique Cardoso que chamou os aposentados brasileiros de  vagabundos. "Me espantou a nossa passividade. O cara que falava aquilo tinha se aposentado com 37 anos, tendo contribuído menos de 15 anos com a previdência”, revela Agnaldo.


O cantor lembra que naquele dia sentou com o violão na rede da varanda de casa e refletiu as perspectivas do trabalhador brasileiro que mesmo depois de se submeter ao padrão social do trabalho ainda tinha de aguentar ser chamado de vagabundo no fim da carreira. De um pleno momento de ócio brotaria a sátira-canção do trabalhador que decide “deixar de ser um cara vagabundo/ para crer na burguesia desse mundo”.



“Eu já trabalhava em dupla jornada como menor aprendiz e sabia que o trabalho desempenhado não condizia com o salário; que a rotina privava muitos de buscarem soluções. Escrevi pensando nos aposentados que não tiveram tempo de aprender outra coisa na vida e naquele momento se encontravam frustrados”, explica Agnaldo. 


Quase duas décadas se passaram, mas o Estado social brasileiro segue punindo os seus futuros aposentados. Hoje encontra-se em tramitação no Senado um projeto de reforma da Previdência que, dentre inúmeras modificações unilaterais, propõe alterar mais uma vez a idade mínima para gozo e também os valores do benefício. Ou seja, a inquietação da música de Agnaldo Mattos segue pertinente, atualizada na função crítica da arte: “Eu vejo a arte desempenhando um papel similar ao que se atribui às universidades: um canal para a criação de sensações que promovam a reflexão. É através dela que criamos um caminho paralelo aos que fazem da comunicação um instrumento de domínio”, reflete o cantor.

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